sexta-feira, fevereiro 27

Coutinho

Gosto dos textos do cara.

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De: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/joaopereiracoutinho/ult2707u500892.shtml

09/02/2009
Animais, músicos & apaixonados
25 de janeiro

O escritor George Steiner, em entrevista ao jornal espanhol "El Pais", teceu alguns comentários racistas que estão a incomodar a "intelligentsia" britânica. Disse Steiner, em seu pessimismo antropológico, que os seres humanos têm um lado obscuro, violento, irracional, profundamente incivilizado, que seria hipócrita esconder ou negar.

E, a título de exemplo, Steiner cita o cenário hipotético de uma família de negros jamaicanos que se instalaria junto da sua pacata casa de Cambridge, com reggae e música rock a tocar todo o dia e os preços imobiliários a descerem pelas redondezas. Para Steiner, isso bastaria para ele perder o verniz.

Não discordo inteiramente de Steiner e só eu sei o que passo nos dias de verão, em que ter casa junto à praia é pecado suficiente para apanhar com as animações noturnas, e amplificadas, com que a prefeitura local gosta de entreter a população. Mas não deixa de ser interessante, e lamentável, que o sábio George tenha escolhido uma família de negros para personificar o seu pesadelo. Negros por que?

Talvez eu esteja a exagerar. Mas existe aqui o mesmo tipo de desconforto que senti quando, há uns tempos, ao ler o seu último livro ("My Unwritten Books"), soube que o autor seria capaz de tudo, inclusive atraiçoar a família e os amigos, se alguém lhe torturasse o cão. Não que eu deseje provações terríveis ao cão de Steiner; mas, ao contrário do que ele pensa, a pretensa superioridade dos animais sobre os humanos não nos torna mais "profundos" ou "enigmáticos". Simplesmente mais cruéis.

Eu seria incapaz de atraiçoar família ou amigos por causa do meu gato. E relembro que o Terceiro Reich tinha a mais pesada legislação da Europa para quem maltratasse animais domésticos. Aos humanos não estava reservado o mesmo tipo de simpatia.

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27 de janeiro

Assisto a "Reichsorchester: The Berlin Philarmonic and the Third Reich" em DVD. Como o título indica, é um documentário de Enrique Sánchez Lansch sobre a Filarmônica de Berlim durante o nazismo. Gravações de época. Fotos de arquivo. Entrevistas com alguns músicos que atravessaram o Reich. E, nas palavras dos próprios, ou dos filhos dos próprios, a certeza de que a Filarmônica nunca foi uma "organização nazista", mas antes um corpo artístico e "apolítico".

Difícil acreditar nessa versão. Se esquecermos que, depois de 1945, a Filarmônica passou pela sua fase de "desnazificação" (como o resto da sociedade alemã), a Filarmônica viveu, cresceu e atuou sob a proteção do Ministério da Propaganda. Que o mesmo é dizer: Goebbels poupava os músicos dos horrores da guerra desde que eles continuassem a exibir-se pela Alemanha e, claro, por alguns países "amigáveis", ou neutrais, como Espanha ou Portugal. Quem, em juízo perfeito, recusaria esse pacto com o diabo?

Não atiro a primeira pedra. Os músicos da Filarmônica, como o resto da sociedade alemã, não viam o que não queriam ver: vizinhos que desapareciam da noite para o dia; perseguições antissemitas; cidades destruídas; mortos e estropiados. Não admira que o momento mais impressivo do documentário aconteça quando um velho músico, já depois da reunificação alemã, visita a aldeia olímpica de Berlim e recorda o concerto ali ocorrido nos últimos meses da guerra, quando a derrota alemã era certa e os soviéticos já vinham a caminho.

Conta o velho músico que, nessa noite, enquanto tocava, olhou para o auditório e viu o espaço povoado por figuras fantasmagóricas: soldados recém-chegados da frente, com as marcas físicas da destruição. Sentimentos contraditórios: alívio, porque a arte lhe permitiu sobreviver com o corpo intacto; mas culpa, porque a alma não estava propriamente intacta. E um pensamento consolador: apesar do inferno, os soldados ali presentes fechavam os olhos e, por uma hora que fosse, entregavam-se à música e ao esquecimento.

De fato: música e esquecimento. A única combinação que resiste e persiste, com guerra ou sem ela.

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5 de fevereiro
Não aprecio a chuva. Prefiro o frio. Dias limpos, solares e frios. Mas admito que a chuva tem os seus encantos. Literários, por exemplo: Graham Greene podia ser um indefectível dos trópicos, mas a paixão de Bendrix por Sarah, em "The End of the Affair", seria impensável nas Caraíbas. Ninguém tem ciúmes do sol. Temos ciúmes da chuva porque só a chuva toca verdadeiramente a pele da mulher que amamos. Corrijo: da mulher que amamos e de todas as mulheres que poderemos amar um dia.

Sei do que falo: caminho sob chuva pelas ruas de Lisboa, olhos postos no chão. E quando me aproximo de alguém na calçada, levanto o olhar e encontro um rosto feminino que me fita do outro lado de uma cortina de água. Anônimos que somos e tão cúmplices que nos tornamos. Quando chove, todas as mulheres com quem me cruzo parecem-me sempre belas e desejáveis e até disponíveis. A chuva enobrece as mulheres.

quarta-feira, fevereiro 25

Notícias

Caros,



passarei a colocar também algumas notícias que parecem ser, de alguma forma relevantes, nem que sejam pela curiosidade, mas que nunca caem na grande mídia.



segue a 1a:



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De: http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/2009/02/090223_gene_abuso_aw.shtml




Maus tratos na infância podem reprogramar gene, diz estudo

Maus tratos na infância teriam efeitos de longo prazo.
Sofrer maus tratos durante a infância pode provocar a reprogramação de alguns genes, deixando a vítima mais vulnerável a doenças mentais e suicídio, sugere um estudo canadense publicado na revista especializada Nature Neuroscience.


Análises de tecido do cérebro de adultos que se suicidaram revelaram mudanças genéticas fundamentais entre os que tinham sofrido maus tratos quando crianças.


De acordo com os cientistas, o estudo reforça o resultado de pesquisas anteriores, que mostraram que maus tratos durante a infância estão associados a uma reação mais intensa em situações de estresse.


Mas ainda não se sabe exatamente como fatores externos interagem com os genes e contribuem para a depressão e outros problemas mentais na fase adulta.


A equipe de pesquisadores da Universidade McGill, em Montreal, examinou o gene para o receptor glicocorticóide - que ajuda a controlar a resposta ao estresse - em uma região cerebral específica de 24 vítimas de suicídio, sendo que metade deles havia sofrido maus tratos quando criança.


Neste grupo, os cientistas encontraram alterações químicas que reduziram a atividade do gene. A redução levou a produção de menos receptores glicocorticóides, o que levaria a uma resposta de intensidade acima do normal ao estresse, segundo o estudo.


Longo prazo


A pesquisa sugere que as experiências durante a infância, quando o cérebro está se desenvolvendo, podem ter um impacto de longo prazo sobre a resposta de alguém a situações estressantes.


Mas o chefe da equipe, Michael Meaney, disse acreditar que estes efeitos bioquímicos também podem ocorrer em fases mais avançadas da vida.


Para Meaney, o resultado mostra o que qualquer psicólogo infantil ou trabalhador no setor de saúde pública já sabe.


"Mas até você comprovar o processo biológico, muitas pessoas no governo e responsáveis pelas políticas na área permanecem relutantes em acreditar que é verdade."


"Além disso, você pode se perguntar se um remédio seria capaz de reverter estes efeitos e isto é uma possibilidade", afirmou Meaney.


Jonathan Mill, do Instituto de Psiquiatria do Kings College London concorda: "O mais empolgante sobre alterações epigenéticas (em que o meio ambiente controla a atividade genética) é que elas são potencialmente reversíveis e portanto seriam talvez um futuro alvo para intervenção terapêutica."

segunda-feira, fevereiro 23

Colunas

Caros, conforme outro post que agendei sobre notícias, segue antes um sobre colunas.

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De: http://www.bbc.co.uk/portuguese/cultura/2009/02/090223_ivanlessa_tp.shtml


Do celular e seus males
Ivan Lessa
Colunista da BBC Brasil

Eu não tenho celular. Em matéria de células, restaram-me algumas lá por volta do cérebro ou cerebelo, não sei direito, e parecem-me que dão para o gasto.

Tenho um telefone lá em casa. De vez em quando toca. Alguém - ou melhor, uma gravação - querendo me vender qualquer seguro. Desligo no meio da fala. Minha maneira patética de agredir quem me aborrece. Outras vezes, eu ligo. Para avisar na BBC que estou pior de saúde do que o de costume e não vai dar para ir. Para perguntar à minha filha, ao menos uma vez por semana, como vão as coisas.

Continuo, como desde a mais tenra idade, a dissonar de meus semelhantes. Mais de metade das pessoas que, como eu, tem a desdita de habitar este planeta, possui celulares. Da mais atrasada tribo de índios da região amazônica ao gabinete do presidente Barack Obama. Uma sorte, eu tenho. Não sou obrigado a ver, ou entreouvir trechos, das conversações dessa gente que acabo de mencionar.

O celular, asseguram-me meus sentidos e comprova a disciplina que estuda as comunicações, que o pequeno objeto em questão é um das mais bem sucedidos produtos já fabricados em todos os tempos. Afirmam ainda que é o mais versátil. Que o celular aglutina outros engenhos tais como os tocadores de mp3, o sistema de rastreamento GPS e as câmeras para fotos ou vídeos.

Aquele lugar-comum do "objeto de desejo" passou do surrado ao surrador. Eu que o diga.

Uso com desabuso, para explicar a minha retrógrada posição, um verbo antigo beirando o desuso, ou datado como gostam de dizer, ou ainda à espera de um adendo à reforma ortográfica: ojeriza, de ojerizar. Tenho ojeriza ao celular. Tentei olhar, e entreouvir, apenas com desdém aos pobres de espírito e bilionários de solidão que falam - e o falar é constante - ao celular. No celular, pelo celular, com o celular. O fato de eu desprezar os usuários de celulares não os afeta. Sofro calado minha solidão, como no samba, e, ao menos, não a compartilho com o resto da pobre coitada da humanidade com aquele infeliz aparelhinho colado no ouvido. Falando e andando. Andando e falando. E rindo. E fazendo caretas. Algumas até falando e dirigindo carro.

Até uma certa época, por falta do que fazer, durante minha caminhada solitária de todos os dias eu ia contando o número de senhoras e senhoritas a palrar sorrindo no celular. Não é misoginia, não é sexismo. Deve haver algum estudo, um especialista em comunicações, que possui os dados relevantes: 83,5 % das pessoas que conversam por celular na rua pertencem ao sexo feminino. De que estão rindo? Bisbilhoteiro, na rua e no metrô, tento entreouvir uma nesga (conversa de celular tem nesga) da falação. O pouco que consigo pegar - ao menos não berram - é sempre sobre um programa feito ontem ou a ser feito hoje. E sobre o que a pessoa do outro lado fez, achou, disse. Tudo isso, pontilhado por exclamações e grunhidos variados.

No dia 3 de abril de 2006, lá por volta das dez e meia da manhã, em Cromwell Road, eu flagrei um cavalheiro, bem vestido, de gravata, dizendo o seguinte, em inglês, para o celular:

"São mais ou menos dez e meia. Estou em Cromwell Road prestes a pegar o ônibus 74. Tudo correndo bem, mais tardar onze horas estou aí. Tudo bem. Um abraço."

Foi a única conversa celular entreouvida por mim que me pareceu prática e objetiva, sendo assim, pois, digna dos maiores encômios.

"Encômio" e "encômios" me parecem palavras merecedoras da ocasião, embora dificilmente constem do vocabulário usual daqueles que praticam o, chamemo-lo assim, "celularismo", como se fosse um vício ou doença incurável.

Voltemos ao mundo dos fatos científicos e que viva eu eternamente nesta terra descontente: a cada 15 meses os celulares são substituídos. Por modelos mais novos, mais versáteis, com certeza mais safados. Há aí um sério problema, conforme já vi discutido em editorial de jornal sério: isso significa que algumas centenas de milhões de celulares são descartados todos os anos, principalmente nos países em desenvolvimento, onde constituem um boom para a produtividade e um catalisador para novas indústrias que surgem, como o uso do sistema bancário online.

Acontece que, ao menos aqui no Reino Unido, apenas 20% dos celulares são reciclados. Isso significa perigo para o meio ambiente. Os celulares contêm substâncias como o cádmio em suas baterias. O cádmio é um perigo. Se bobearem jogando fora no mar ou num rio, isso pode vir a matar peixe e banhista. Ambos também armados ou não de celular. É preciso cuidar de não degradar o pouco que resta de vivível em nosso meio ambiente. Dizem lá eles.

Sou contra. Que poluam. Que degradem. Cádmio neles. A vida em meio a bilhões de pessoas armadas de celular não vale a pena ser vivida.

domingo, fevereiro 22

Piadinhas para o ritmo do (contra) carnaval

Está odiando o mundo? E a si mesmo por ter ficado preso e só ouvir carnaval?


NÃO PULE PELA JANELA AINDA!

Leia antes. Pelo menos terá umas piadinhas novas para contar para São Pedro (ou o maledeto, dependendo de para onde for...)

Pule a primera, melhora...

(ainda o odeio por ter roubado meu mote "servimos bem para servir sempre" - de volta na área! ;-) )



E para continuar no ritmo de "eu amo carnaval, eeee" (sarcasmo)

Está cansado de tudo, puto, quer matar um?
Calma! Pense assim... Você poderia ser uma girafa!